11/11/2025
O Brasil deu mais um passo rumo à abertura do exigente
mercado japonês para a carne bovina nacional e se aproxima de um acordo
considerado estratégico para a pecuária do país. A expectativa é de que uma auditoria
final de autoridades do Japão em frigoríficos brasileiros, prevista para
ocorrer nos próximos meses, conclua a etapa técnica necessária para a
formalização do protocolo sanitário entre os dois países.
O avanço nas tratativas ocorre após o reconhecimento do
Brasil pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como livre de
febre aftosa sem vacinação em áreas específicas – com destaque para Rio
Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina –, condição essencial para acessar
mercados de maior valor agregado.
Em junho, uma missão japonesa já havia vistoriado plantas
sob inspeção oficial, avaliando o sistema brasileiro de defesa, controle de
doenças e rastreabilidade. Segundo memorando do governo brasileiro citado pelo
Ministério da Agricultura, o Japão recebeu respostas a um extenso questionário
técnico sobre a produção de carne bovina na região Sul e agora conduz sua
própria avaliação de risco, como prevê a legislação local.
Se a auditoria final for bem-sucedida, o Japão poderá
autorizar o Brasil a operar no modelo de pré-listing, permitindo que o
próprio serviço veterinário brasileiro indique as plantas habilitadas –
mecanismo que agiliza futuras credenciações.
Impacto no mercado
Para o analista Fernando Henrique Iglesias (Safras
& Mercado), a eventual abertura deve começar de forma gradual,
concentrada inicialmente nos estados do Sul. O volume neste primeiro momento
não deve ser suficiente para mexer de forma relevante na oferta interna ou nos
preços da arroba, mas o movimento é visto como um selo de confiança e um
passo importante na construção da imagem do Brasil como fornecedor premium.
O Japão importa cerca de 730 mil toneladas de carne
bovina por ano, atendido principalmente por Estados Unidos e Austrália. Com
quase 125 milhões de habitantes, alto poder aquisitivo e padrão rigoroso de
qualidade e rastreabilidade, o país paga mais por cortes padronizados e com
elevado marmoreio.
Segundo Lygia Pimentel, CEO da Agrifatto, se o Brasil
confirmar o acesso, terá de reforçar investimentos em genética, nutrição de
precisão e gestão reprodutiva, além de sistemas robustos de
rastreabilidade, para atender às exigências japonesas. A entrada nesse mercado,
ainda que com volumes modestos, tende a fortalecer a percepção internacional da
carne bovina brasileira como produto de alto valor agregado e sustentável,
abrindo portas também para outros destinos exigentes, como Coreia do Sul.
Representantes do setor produtivo, como o assessor técnico
de bovinocultura da CNA, Rafael Ribeiro, ressaltam que a abertura ao
Japão significaria diversificação de mercados, redução da dependência da
China e melhor remuneração para carnes diferenciadas, desde que o país mantenha
disciplina sanitária e transparência nos controles oficiais.
Cautela e longo prazo
Fontes do Ministério da Agricultura reforçam que não há
data oficial para o anúncio, e lembram que o Japão adota um processo
historicamente técnico e rigoroso. A leitura das consultorias é que o potencial
é grande no médio e longo prazos, mas sem expectativa de choque imediato
na disponibilidade interna ou na formação de preços do boi gordo.
O consenso entre analistas e governo é que a disputa por
espaço no mercado japonês será menos uma corrida por volume e mais uma prova
de qualidade, rastreabilidade e confiança institucional – fatores que podem
reposicionar o Brasil em um novo patamar na geopolítica da carne bovina.